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Missionário, Bispo e Fundador.

Santo Antônio Maria Claret foi um dos maiores bispos da história da Igreja. Incansável e zeloso, a partir de escritos (livros, artigos e revistas) e pregações, promoveu a fé cristã católica. Anunciou o Evangelho quando muitos na Europa estavam se afastando de Deus.

Meditar na eternidade: semente do missionário

Nascido numa família de profundas raízes religiosas, Santo Antônio Maria Claret apresenta, em sua autobiografia, a sua primeira infância: “A Divina Providência sempre velou por mim de forma particular”. É interessante notar que, ao contar sua origem, menciona a pequena Sallent, onde nasceu, na Diocese de Vic, província de Barcelona (Espanha). Recorda, com carinho, de seus pais – “honrados, tementes a Deus, muito devotos do Santíssimo Sacramento do Altar e de Maria Santíssima”.

As primeiras ideias de que tem memória remontam aos seus cinco anos. Havendo recebido dos pais as primeiras noções de bem e mal, céu e inferno, tinha noites de insônia e se punha a pensar na eternidade: “Sempre, sempre, sempre; imaginava distâncias enormes, e a estas se acrescentavam outras e outras, e ao ver que não alcançava o fim, estremecia e pensava: aqueles que tiverem a desgraça de ir para a eternidade de penas, jamais deixarão de sofrer, sempre padecerão? Sim, sempre, sempre terão de penar!” E se condoía do fundo da alma.

Este pensamento foi o motor, “a mola e o aguilhão de meu zelo pela salvação das almas”, do apostolado em prol da “conversão dos pecadores, no púlpito, no confessionário, por meio de livros, estampas, folhetos, conversas familiares”.

Despertar da vocação sacerdotal

Bem menino ainda, começou a estudar e, já na escola, aprendeu as primeiras letras. Tudo assimilava com rapidez, em especial o catecismo e a história sagrada. Aos dez anos, recebeu a primeira comunhão. Logo, o pequeno Antônio percebeu o despertar da sua vocação sacerdotal: “Com que fé, confiança e amor falava com o Senhor, com meu bom Pai! Eu me oferecia mil vezes a seu santo serviço, desejava ser sacerdote para consagrar-me dia e noite a seu ministério”. Encaminharam-no ao estudo do latim, mas o curso fechou alguns anos depois e as dificuldades da época obrigaram o pai a levá-lo para trabalhar em sua pequena fábrica de fios e tecidos, em vez de enviá-lo ao seminário.

A fábrica ou o sacerdócio?

Como primeira tarefa, enchia os carretéis das lançadeiras dos teares. Mais tarde, tornou-se chefe dos operários, e nesta função aprendeu “como é verdade que melhor proveito se tira tratando os outros com doçura do que com aspereza e irritação.”

Em 1825, vai para Barcelona, onde se aperfeiçoa na arte da tecelagem. Autodidata, só de analisar as mostras de tecidos vindos de Paris ou Londres já ideava um meio de fabricá-los, com resultados idênticos ou melhores. Por três anos, estes assuntos ocuparam sua mente a ponto de ter, mesmo durante a missa, “mais máquinas na cabeça do que santos havia no altar”.

Até que, como uma flecha aguçada a penetrar-lhe o coração, em plena missa recordou-se desta passagem do Evangelho: “Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mc 8, 36). “Senti-me, como Saulo, no caminho de Damasco […]. Despertaram-se em mim os fervores de piedade e devoção.”

De cartuxo a jesuíta…

Decidiu tornar-se cartuxo, com grande pesar do pai, que desejava ver o talento de seu filho nos negócios da família. Antônio voltou para Vic e iniciou os ­estudos de filosofia, tomando gosto pela contemplação, disciplina e penitência.

A caminho da Cartuxa de Monte Alegre, próxima de Barcelona, adoeceu gravemente e precisou regressar a Vic. Compreendeu, então, haver sido circunstancial o chamado à vida contemplativa: “O Senhor me levava mais longe para desligar-me das coisas do mundo, e para que, desapegado de todas elas, me fixasse no estado clerical.”

Afinal, ingressou no seminário e, completados os estudos, foi ordenado sacerdote em 13 de junho de 1835. Enviado para a Paróquia de Santa Maria, em sua cidade natal, constituiu para si uma rigorosa regra de vida. Porém, Deus o incitava a ser missionário. Foi a Roma e se ofereceu para ser enviado em missão para qualquer parte do mundo.

Lá chegando, o padre Claret fez os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e, pouco depois, foi convidado a entrar na Companhia de Jesus: “Tornei-me jesuíta da noite para o dia.”

…de noviço a missionário e fundador

O tempo do noviciado lhe foi muito útil: “Ali aprendi o modo de dar os Exercícios de Santo Inácio, o método de pregar, catequizar, confessar, com grande utilidade e proveito.”

Sentia-se muito bem na Companhia de Jesus, mas um problema na perna o levou à enfermaria e não havia como curá-lo. Os superiores então determinaram seu regresso à Espanha.

O Bispo de Vic, Dom Luciano Casadevall, enviou-o para a aldeia montanhosa de Viladrau, onde começou seu trabalho de conquistar almas para o céu. Jamais ia a lugar algum sem ser mandado. E aconselhava aos missionários: “Não temam as dificuldades que se apresentem ou as perseguições que se levantem; Deus os enviou pela obediência, Ele os protegerá.” Tal como os Apóstolos, com entusiasmo anunciava o Evangelho.

Ao voltar de uma viagem evangelizadora nas Ilhas Canárias, em meados de maio de 1849, pôs em prática um plano já bem refletido de fundar uma congregação de sacerdotes missionários, na qual cada membro devia ser “um homem que arde em caridade e abrasa por onde passa; deseja eficazmente e procura por todos os meios atear no mundo inteiro o fogo do divino amor. Nada o amedronta; delicia-se com as privações; busca os trabalhos; abraça os sacrifícios; compraz-se com as calúnias e se alegra com os tormentos. Não pensa senão em como seguirá Jesus Cristo.”

Reunindo no seminário de Vic cinco outros sacerdotes, e de posse das autorizações episcopais, fundou em 16 de julho daquele ano a Congregação de Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria. “Hoje começamos uma grande obra”, afirmou.

Não obstante, eis que menos de um mês depois o Bispo o chamou e entregou-lhe uma carta de nomeação como Arcebispo de Santiago de Cuba.

Na Arquidiocese de Cuba: amado e perseguido

Alegando não poder abandonar a livraria religiosa que dirigia, bem como sua congregação nascente, recusou. Todavia, ao receber ordem formal de seu prelado para aceitar, confiou a pequena comunidade a Maria Santíssima e, tendo sido ordenado bispo, partiu para Barcelona, a fim de cruzar o Atlântico rumo à sua arquidiocese.

É impossível narrar aqui as aventuras da viagem, na qual cada parada servia-lhe de pretexto para pregar, e menos ainda tudo quanto na antiga Pérola do Caribe se passou em termos de riscos, catástrofes naturais, epidemias e trabalhos  missionários. Em seu ministério de arcebispo, com a força de sua palavra, serenava revoltas, moralizava os costumes e obtinha conversões em massa. “Em seis anos e dois meses visitei quatro vezes cada paróquia”, escreveu ele. Por todo o bem ali feito, Santo Antônio Maria Claret conheceu de perto tanto a gratidão dos que beneficiara quanto o ódio e a perseguição. Já as provara na Espanha, mas em Cuba, quase foi morto. Em 1856, ao terminar um enfático sermão, saiu da igreja e caminhava pela movimentada Calle Mayor da cidade de Holguin, quando sofreu um terrível atentado. Fingindo querer beijar seu anel episcopal, aproximou-se dele uma pessoa, no intuito de lhe cortar o pescoço com uma navalha de barbear. Como, porém, ele tinha naquele momento a cabeça inclinada e cobria a boca com um lenço, o golpe o atingiu no rosto, da orelha ao queixo, e no braço direito. “Não posso explicar o prazer, o gozo e a alegria de minha alma ao ver que havia conseguido o que tanto desejava: derramar o sangue por amor a Jesus e Maria, e poder selar com o sangue de minhas veias as verdades evangélicas”, assim o bispo narra sua reação ao atentado. Algum tempo depois se recuperou da profunda ferida, ficando, contudo, com o rosto bastante desfigurado, e regozijava-se por poder repetir com São Paulo: “Trago em meu corpo as marcas de Jesus Cristo” (Gal 6, 17).

Nomeado confessor da rainha Isabel II, partiu de La Habana para Madri, em março de 1857. Por fim pôde contemplar os progressos de sua congregação.

Abrasado de caridade

Como prêmio por tanto amor a Deus, foram-lhe concedidos muitos favores místicos, entre os quais a previsão de acontecimentos futuros e a permanência eucarística: “No dia 26 de agosto de 1861, estando em oração na Igreja do Rosário, em La Granja, às 7 horas da tarde, concedeu-me o Senhor a grande graça da conservação das Espécies Sacramentais, de ter sempre, dia e noite, o Santíssimo Sacramento no peito; por isso, devo estar sempre muito recolhido e devoto interiormente; ademais, devo rezar e fazer frente a todos os males da Espanha, como me disse o Senhor”.

Ancião, enfermo e cansado, participou ainda do Concilio Vaticano I. Morreu no dia 24 de outubro de 1870, na  França, no Mosteiro Cisterciense de Fontfroide.

Este belo trecho de uma ardente oração composta por Santo Antônio Maria Claret, no noviciado jesuíta, resume a sede de almas que o consumia no curso de toda a sua vida: “Como se dirá que tenho caridade ou amor a Deus se, vendo meu irmão em necessidade, não o socorro? […] Como terei caridade se, sabendo que lobos vorazes estão degolando as ovelhas de meu Senhor, me calo? Como terei caridade se emudeço ao ver como roubam as joias da casa de meu Pai, joias tão preciosas que custaram o Sangue e a vida do próprio Deus, e ao ver que atearam fogo à casa e à herança de meu amadíssimo Pai? Ah! Minha Mãe, não posso calar-me em tais ocasiões. Não, não me calarei, mesmo sabendo que serei despedaçado […]. E se ficar rouco ou mudo de tanto gritar, levantarei as mãos aos Céus, se eriçarão meus cabelos e baterei os pés no chão para suprir a falta de minha língua. Portanto, minha Mãe, desde já começo a falar e a gritar, e recorro a Vós. Sim, a Vós, que sois Mãe de misericórdia: dignai-Vos socorrer em tão grande necessidade; não me digais que não podeis, pois sei que na ordem da graça sois onipotente. Dignai-Vos, eu Vos suplico, dar a todos a graça da conversão, pois sem esta nada faríamos, e então me enviai e vereis como se convertem.”

 

Fonte: Autobiografia de Santo Antonio Maria Claret – Editora Ave Maria – São Paulo/SP
site: Portal Claret – Missionários Claretianos do Brasil
www.claretianos.com.br